O CINEMA DE ROTINA
 

 

01 de agosto de 2006

Depois do diabinho da profecia e dos aparvalhados náufragos do navio Poseidon, é a vez de um super-herói dos quadrinhos mostrar a nostalgia do cinema comercial de hoje pelo cinema comercial da década de 70. Parece que os artesãos da indústria de Hollywood de agora reconhecem com seus filmes: nada mais temos a fazer senão copiar nossos mestres.

Brian Singer, conhecido no meio ao dirigir os dois primeiros X-men, roda uma produção asséptica e sem novidades para dar seu recado em Super-homem, o retorno (Superman returns; 2006). A narrativa do cineasta Richard Donner em Super-homem, o filme (1978) é reverenciada pelos admiradores do entretenimento cinematográfico, coisa que Donner executava com o mesmo despudor de Singer mas com uma habilidade visual muitas vezes maior; o filme de Donner está longe do conceito de clássico que alguns mitologicamente lhe atribuem, é até mesmo um filme inconsistente em sua dramaturgia, mas, devo reconhecer, sobreviveu aos anos como modelo para seus defensores. Singer é certamente um discípulo de Donner e sua atual versão dos conflitos do homem de aço não passa de plágio vergonhoso de algo que originalmente já não era grande coisa.

Como a caracterização de Christopher Reeve como o super-homem de 1978 ficou marcada, especialmente depois que um trágico acidente hípico deixou o ator paralítico até sua morte (dizia-se, quando se deu o acidente, com a força das metáforas que se convertem em realidade: o super-homem, depois de tantos vôos, estava paralítico), o principal veio de aproximação do filme de Singer foi assemelhar paulatinamente o intérprete Brandon Douth a seu modelo Reeve, a quem as novas aventuras do herói são dedicadas no final da projeção; isto torna o plágio especialmente agudo, produzindo mais um dos muitos pastiches cinematográficos em que este início de milênio se tem esmerado na outrora chamada meca do cinema (hoje cairia melhor chamar “uma maca de processos fílmicos adoentados”). Por falar em semelhança, me pareceu meio arrepiante como espectador brasileiro a parecença de ares da atriz Kate Bosworth (que vive Lois Lane) com a brasileira Ana Paula Arósio (atualmente em voga numa telenovela).

Super-homem, o retorno, finalizando, é até bastante precário naquilo que os filmes do gênero têm de melhor: as cenas de ação. As correrias formais e a grandiloqüência dos quadros são bastante ingênuas e suas funções dramáticas se esfacelam e dispersam ao longo de tardos cento e cinqüenta e quatro minutos.

Por Eron Fagundes

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